domingo, 1 de abril de 2018

A VALQUÍRIA / DIE WALKÜRE – Deutsche Oper am Rhein, Düsseldorf, Março / March 2018



(review in English below)

A Valquíria, de Richard Wagner, esteve em cena na Deutsche Oper am Rhein no Sábado de Páscoa.



O teatro tem uma acústica peculiar, a orquestra era “normal”, não excessivamente wagneriana, mas ouvia-se quase sempre em forte, embora alguns trechos soassem baixo.




A encenação foi de Dietrich Hilsdorf, guarda roupa de Renate Schmitzer, luzes de Volker Weinhart e dramaturgia de Bernhard Lobes. Apesar de ter os componentes clássicos (a espada era uma espada, a lança uma lança, o Wotan tinha o olho vendado) foi peculiar mas não pindérica. A acção passa-se numa guerra (um tema muito do agrado dos encenadores da Valquíria). O cenário é sempre o mesmo nos 3 actos, mas com modificações.

O 1º acto começa com a chegada do Hagen a casa, tentando acariciar a Siegliende, mas é por ela repelido. A casa tem uma grande mesa à esquerda do palco, com garrafas de vinho e copos (ficarão até ao final da ópera), por trás dela o tronco grande de uma árvore onde está cravada a espada Nothung. À direita há um fogão antigo e uma porta, deduz-se para o quarto, e nada mais, para além de umas cadeiras dispersas. Tudo o resto é convencional, embora a Sieglinde tem uma postura muito insinuante para com o Siegmund logo desde o início. No final, quando revelam as suas identidades de irmãos gémeos, vestem a roupa um do outro, numa cena que não resulta.



O 2º acto começa no mesmo local e estão sentados à mesa o Hunding, o Siegmund e a Sieglinde já grávida de 6 meses, que ouvem a oposição da Fricka à sua união adúltera e incestuosa. Também todo este acto decorre no mesmo cenário e é convencional. O Wotan toma uma atitude muito submissa e quase “derrotada” depois do pedido da Fricka, deita-se no chão quando fala com a Brünhilde, numa atitude muito pouco de acordo com a sua condição de deus. Quando ordena retirar o poder mágico da espada (que está sobre a mesa), cai a lança em cima dela, partindo-a, e fica espetada na vertical, talvez o efeito mais original e mais conseguido da encenação. É aqui que a lança aparece pela primeira vez e continuará nas mãos do Wotan.



O 3º acto começa ouvindo-se ruidosamente um helicóptero e ele aprece destruído no mesmo cenário com a mesa de um lado e o fogão do outro. Dele saem os heróis mortos, em tronco nu, tipo zombies, com as feridas mortais na cabeça, pescoço, tórax ou abdómen. As valquírias estão de vestido comprido escarlate e cavalos, nem na melhor imaginação. Oferecem vinho aos heróis, há muitos copos e muitas velas acesas na mesa. Depois tudo é convencional até ao fim (excepto o Hagen morto que permanece sentado num sofá que está na tal mesa até ao fim - é um boneco). A Brünhilde fica sentada numa cadeira perto da mesa e o fogo sagrado vê-se fora dessa sala, numa janela grande. Ainda pensei que as velas serviriam para o fogo mas não, grande parte delas são apagadas com vinho pelo Wotan.



A direcção musical, regular, da Düsseldorfer Symphoniker foi do maestro Axel Kober.



Em relação aos cantores principais, todos de grande categoria.
A Sieglinde, soprano sueca Elisabet Strid, foi a melhor da noite. Tem uma voz muito bonita, expressiva e interpretou a personagem de forma soberba, incluindo o desempenho cénico.



O Siegmund, tenor norte americano Corby Welch, foi o elo mais fraco. Pouco emotivo, os Wälse! saíram frouxos, no Winterstürme foi desinteressante e ocasionalmente deixou-se afogar pela orquestra.



O Hunding, baixo finlandês Sami Luttinen, tem uma voz cavernosa poderosíssima e teve uma interpretação correcta.



A Fricka, mezzo alemã Renée Morloc, cantou bem, ouviu-se sempre sobre a orquestra e ofereceu-nos uma interpretação convincente.



O Wotan, baixo barítono inglês Simon Neal, tem um timbre vocal muito bonito, audível sempre a orquestra e perfeitamente adequado à personagem. Se fez um papel excessivamente submisso e “derrotado”, terá sido por indicação do encenador.




A Brünhilde, soprano norte americana Linda Watson, ofereceu-nos também uma interpretação marcante, de qualidade superior. Cenicamente não foi muito criativa mas a voz destacou-se como uma das melhores, sempre sobre a orquestra e de grande expressão emotiva.



As valquírias: Helmige (Josefine Weber), Gerhilde (Jessica Stavros), Ortlinde (Katja Levin), Waltraute (Katarzyna Kuncio), Siegrune (Zuzana Sveda), Rossweisse (Maria Hilmes), Grimgerde (Katharina von Bülow) e Schertleite (Evelyn Krahe) estiveram globalmente bem, embora não tenha havido equilíbrio qualitativo entre todas.









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DIE WALKÜRE - Deutsche Oper am Rhein, Düsseldorf, March 2018

Richard Wagner's Die Walküre was on stage at the Deutsche Oper am Rhein on Easter Saturday.

The theater has a peculiar acoustics, the orchestra was "normal", not excessively Wagnerian, but it was almost always heard in forte, although some parts sounded piano.

The staging was by Dietrich Hilsdorf, Renate Schmitzer's costumes, Volker Weinhart lights. Despite having the classic components (the sword was a sword, the spear a spear, Wotan had the eye blindfold) the staging was peculiar. The action takes place in a war (a theme much to the liking of the directors of Valkyrie). The scenario was always the same in the 3 acts, but with modifications.

The first act begins with the arrival of Hagen in his house, trying to kiss Siegliende, but is repelled by her. The house has a large table to the left of the stage, with bottles of wine and glasses (that will remain until the end of the opera), behind it the large trunk of a tree where the sword Nothung is nailed. To the right there is an old stove and a door, it leads to the bedroom, and nothing else, besides scattered chairs. All the rest is conventional, although Sieglinde has a very insinuating behavior towards Siegmund right from the start. In the end, when they reveal their identities as twin brothers, they dress each other's clothes in a scene that does not work out.

The second act begins in the same place and at the table the are seated Hunding, Siegmund and Sieglinde already 6 months pregnant, who hear the opposition of Fricka to their adulterous and incestuous union. Also this whole act takes place in the same scenario and is conventional. Wotan takes a very submissive and almost "defeated" attitude after Fricka's request, lying on the floor when speaking to Brünhilde, in an attitude that is very little in accordance with his god condition. When he orders to remove the magical power of the sword (which is on the table), the spear drops on top of it, breaking the sword, and stuck vertically, perhaps the most original and most accomplished effect of the staging. This is where the spear appears for the first time and will remain in Wotan's hands.

The third act begins with a loud noisy helicopter and we see it destroyed in the same scenario with the table on one side and the stove on the other. From the elicopter exit the dead heroes, like zombies, with mortal wounds on the head, neck, thorax, or abdomen. The valkyries are in scarlet dark dress and without horses. They offer wine to the heroes, there are many glasses and many candles lit on the table. Then everything is conventional until the end (except for the dead Hagen who is sitting on a couch until the end - it's a doll). Brünhilde sits in a chair by the table and the sacred fire is seen outside this room, through a large window. I still thought the candles would serve the fire but no, most of them are wiped with wine by Wotan.

The musical direction of the Düsseldorfer Symphoniker was regular, by maestro Axel Kober.

Concerning the main singers, all were of great category.
Sieglinde, Swedish soprano Elisabet Strid, was the best of the night. She has a very beautiful and expressive voice, and interpreted the character in a superb way, including the stage performance.

Siegmund, North American tenor Corby Welch, was the weakest link. Unemotional, the Wälse! were loose, and in the Wintersturme was uninteresting and occasionally drowned by the orchestra.

Hunding, Finnish bassist Sami Luttinen, has a very powerful cavernous voice and had a correct interpretation.

Fricka, German mezzo Renée Morloc, sang well, she was always heard about the orchestra and offered us a convincing interpretation.

Wotan, English bass baritone Simon Neal, has a very beautiful vocal tone, always audible over the orchestra and perfectly suited to the character. If he has played an excessively submissive and "defeated" role, it will have been by appointment of the director.

Brünhilde, North American soprano Linda Watson, also offered us a remarkable interpretation, of superior quality. On stage she was not very creative but the voice stood out as one of the best, always over the orchestra and of great emotional expression.

The Valkyres: Helmige (Josefine Weber), Gerhilde (Jessica Stavros), Ortlinde (Katja Levin), Waltraute (Katarzyna Kuncio), Siegrune (Zuzana Sveda), Rossweisse (Maria Hilmes), Grimgerde (Katharina von Bülow) and Schertleite ) were globally well, although there was no qualitative balance among all.

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