quarta-feira, 2 de setembro de 2015

"MANON LESCAUT" MANTÉM O MUNICIPAL DE SÃO PAULO EM ALTO NÍVEL


CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Após a boa notícia da troca de produções entre os teatros municipais do Rio e de São Paulo nos anos vindouros estreou no Theatro Municipal de São Paulo a ópera "Manon Lescaut" de Puccini no último dia 29 de Agosto. Entre as quatro mais famosas óperas de Puccini considero Manon Lescaut a mais fraca, não vejo nela a mesma genialidade musical das óperas "Turandot", "Madama Butterfly" ou da "Tosca". Considero a "Manon" de Massenet superior em matéria de libreto e melodias.



 A exceção do "Otello" o Theatro Municipal apresentou excelentes produções esse ano e Manon Lescaut não foi diferente. Cenários exuberantes e corretos, de tirar o fôlego de Juan Guillermo Nova, figurinos adequados de Marino Luxardo e a luz que dialoga com o texto de Cesare Agoni foram o princípio de uma grande récita. O cenário do primeiro ato lembra um quadro impressionista, leve e idílico. O segundo ato passeia no expressionismo, o terceiro é realista e o último é surrealista.
A direção cênica de Cesare Lievi fica na medida correta, sem exageros, sem firulas e invencionices modernistas. Mantém a ação na época em que ela se passa e se presta à narrar a ação cênica como ela é. Moderna e atual se harmoniza com as outras linguagens teatrais. Ser moderno não é necessário chocar o público colocando peladões ou telões no palco.

Marcello Giordani foi um dos melhores Des Grieux da sua geração, figura carimbada em todos os grandes teatros do mundo afora. Apresentou voz potente e agudos brilhantes e parou por aí, sua voz foi sempre constante, sem vibração e empolgação. Cenicamente imprimiu certa dramaticidade ao seu personagem nos atos finais, pecou nos dois primeiros pela falta de jovialidade.

 Maria José Siri mostrou mais uma vez no palco do Municipal sua qualidade vocal. Seja como Aida ou como Manon Lescaut sua voz de soprano spinto tem calor e escuridão no timbre, potencia e projeção para encher a sala de apresentações. Sua Manon é tensa, apaixonada e totalmente convincente. 



Paulo Szot mostrou completo domínio cênico e vocal do personagem Lescaut, sua voz é recheada de graves robustos e técnica refinada. Tive o prazer de vê-lo cantando a versão francesa de Lescaut no Teatro Alfa em 2002 e agora o vejo na versão italiana e ele só melhora a cada apresentação. O Geronte de Saulo Javan esteve a altura do personagem com belos graves.

A Orquestra Sinfônica Municipal regida por John Neschling mostra que está se acostumando ao repertório operístico, tocou com precisão e firmeza. Andamentos precisos e musicalidade com volume correta foram a tônica da apresentação. A prática leva a perfeição, quanto mais óperas apresentadas maior será o crescimento da orquestra. O incidente do início do quarto ato onde a música começa e para por um problema técnico no palco afetou pouco o decorrer da récita. O Coro Lírico Municipal segue a mesma fórmula, sempre se apresenta com qualidade vocal superior em todos os naipes vocais.

Ali Hassan Ayache

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