terça-feira, 2 de setembro de 2014

A TÉCNICA REFINADA DE MARIELLA DEVIA E A REGÊNCIA PERDIDA DE SABBATINI. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.



Assistir a Joyce DiDonato e Mariella Devia na mesma semana é um privilégio raro. A apresentação de duas cantoras de renome internacional em diferentes fases da carreira mostra que São Paulo faz parte do circuito internacional de grandes espetáculos líricos. Eventos dos mais diversos estilos e artistas de todos os gabaritos passam pela terra da garoa.

O Projeto Grandes Vozes trouxe o soprano Mariella Devia e o tenor que se acha regente Giuseppe Sabbatini para se apresentarem no aconchegante Theatro São Pedro. A condução da Orquestra do Teatro por Sabbatini apresentou diversas falhas, sobraram desencontros entre naipes em diversas passagens. Na abertura da ópera I Capuleti e I Montecchi de Bellini a musicalidade esteve confusa e o Intermezzo da ópera Manon Lescaut de Puccini se mostrou sem brilho. Conduzida por outros regentes a orquestra da casa esteve bem superior e em repertórios mais complexos. Prefiro Sabbatini cantando, reger é uma arte complexa que o simpático tenor  italiano não domina. Será que ele imagina ser um Plácido Domingo?
   
Mariella Devia fez carreira internacional de sucesso, se apresentou em grandes teatros e se especializou no repertório romântico italiano do século XIX. Devia é um soprano correto, segue a partitura com perfeição e mesmo com 66 anos de idade consegue notas inimagináveis devido a uma técnica apurada. Essa mesma técnica conservou a voz dela por décadas. Muitas cantoras jovens nem chegam perto de seus agudos. Sua voz tem excelente projeção, seu fraseado é impecável, seu timbre é consistente e suas coloraturas são impecáveis.

Canta a moda antiga, sua Casta Diva da ópera Norma de Bellini é cópia autenticada da Callas, na Lucia de Lammermoor de Donizetti se sente em casa e exibiu total domínio técnico da partitura esbanjando nas coloraturas e em Chi il bel sogno di Doretta da ópera La Rondinede Puccini soltou uma voz lírica. No repertório francês cantou duas árias inadequadas a sua voz, pesada demais para a Manon de Massenet e para a ária Je veux vivre da ópera Romeo et Juliet de Gounod.


Ali Hassan Ayache

1 comentário:

  1. Senti o mesmo quando vi o tenor José Cura tentar reger orquestra, há uns anos, no S. Carlos em Lisboa.

    ResponderEliminar