sábado, 30 de junho de 2012

A CRIATIVIDADE REINA NO THEATRO SÃO PEDRO-L'ELISIR D'AMORE DE DONIZETTI.



O Theatro São Pedro / SP abriu sua temporada de óperas na noite do dia 26 de junho com um título querido pelo público. L'Elisir D'Amore é uma das óperas mais conhecidas de Donizetti. Nela temos cenas cômicas, belas árias e duetos e um amor inocente que nos dias atuais seria considerado até bobo. L'Elisir D'Amore contagia com sua bela música e é encenada há quase duzentos anos. Grandes sopranos e tenores atuais e da antiga já cantaram a alegria e as mazelas de Nemorino e Adina.


 A opção do diretor Walter Neiva de trazer o enredo para a década de 40 do século XX era um risco eminente. Grandes diretores já se atrapalharam transportando a ação para épocas diferentes do libreto. Walter Neiva consegue, com maestria, e sem inventar moda modernizar a ópera, transportá-la para a década de 40 e ser fiel ao libreto. Não inventa moda, não faz firulas e não quer aparecer mais que os outros. Idéias criativas e inteligentes fazem parte de toda a apresentação, suas marcações são corretas, a movimentação dos cantores e do coro realça o cômico. Arranca muitos risos da platéia, diverte e emociona ao mesmo tempo.
O cenário é de uma beleza sem igual, digno de figurar em grandes teatros. O melhor cenário apresentado pelo Theatro São Pedro nos últimos anos. Os figurinos impecáveis e a luz realçaram ainda mais a apresentação.


 A escalação do elenco foi um primor: vindo da frança tivemos Sébastien Guèze. O jovem tenor tem uma voz com timbre interessante, pequena e adequada ao personagem. Exagera nas caretas ao cantar, mas atua com emoção. Esse é um detalhe que não pode escapar, sua atuação junto com sua voz emociona o público. Os conhecedores de ópera podem reclamar de sua técnica, dizer que sua tessitura, seu legatto e sua extensão não são das melhores, eu concordo com eles. Mas o jovem tem a capacidade de ser um grande Nemorino, pela atuação cênica e pela superlativa capacidade de emocionar o público. Isso é mais que suficiente para um grande Nemorino.


 Gabriella Pace arrasou como Adina, sua voz esteve maravilhosa. Lírica, jovial e sedutora. Sua atuação cênica impecável mostrou sentimentos de desprezo e paixão quando o libreto exigia. Mostrou grandes qualidades vocais do início ao fim da récita, tudo adequado a personagem. Grande soprano, grande atuação vocal que arrepia a cada nota.
Sebastião Teixeira fez um Sargento Belcore engraçado e interessante. Sua voz de barítono tem belos graves e agudos consistentes. Sua atuação cênica mostra todas as trapalhadas e ansiedades do militar que deseja casar o mais rápido possível com Adina. Sua patente é de sargento, mas seu uniforme mostra medalhas e condecorações de general, tudo hilário. Bravo Teixeira!
Outro que arrebentou foi Saulo Javan, como Dulcamara foi o mais charlatão dos charlatões. Sua voz tem graves maduros, consegue uma agilidade incrível para um baixo. Voz possante, madura e arrepiante. Atuação soberba, quase derruba o cenário na sua saída do palco com a bicicleta. Excelente Dulcamara.


 O programa cedido ao público saiu da mesmice e mostrou informações apresentadas de maneira inusitada e criativa. Dar bem casado, com o nome de Adina e Nemorino, ao público na saída do espetáculo é outra idéia interessante que agrada a todos. Espero que essa produção não se perca e que seja apresentada no decorrer dos próximos anos. A Orquestra do Theatro São Pedro manteve grande qualidade: tempos, volume e sonoridade compatíveis com a ópera de Donizetti. Nas mãos do maestro Emiliano Patarra rendeu apresentou uma sonoridade digna de um grande Donizetti. O coro esteve brilhante, nas suas intervenções mostrou grandes qualidades vocais e ritmos que combinam com a obra.
Dia de estréia (geralmente escrevo estréia com acento, a reforma ortográfica que vá às favas) é peculiar, estão presentes cantores , diretores e muitos que escrevem e trabalham no meio. Uma presença em especial me chama a atenção, o diretor do Theatro Municipal de São Paulo, Abel Rocha. Ele assistiu a récita e espero que se inspire em fazer óperas com essa qualidade. Contratar Walter Neiva é uma grande solução. Depois do Rigoletto de 2011 e da La Traviata desse ano a coisa anda meio complicada por lá.

Ali Hassan Ayache

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Festival Castell Peralada, Girona, Espanha



Por nos ter sido pedido pela organização aqui fazemos referência ao prestigiado Festival Castell Peralada que ocorrerá nos próximos meses de Julho e Agosto em Peralada, Girona, Espanha.
No que respeita ao programa lírico há espectáculos de grande interesse, dos quais salientamos:

- Il Trovatore de Verdi a 20 de Julho, com um elenco fantástico.


- Um recital com o tenor Ramon Vargas em 2 de Agosto.

 - Don Giovanni de Mozart a 3 e 5 de Agosto também com um elenco muito respeitável.


 - Uma ópera em estreia mundial (Java Suite) a 14 de Agosto

 - E um encerramento de luxo, com um recital em 22 de Agosto pelo tenor Jonas Kaufmann (se ele não cancelar).

 Óptimos pretextos para uma visita a Peralada (Girona, Espanha).
www.festivalperalada.com



Festival Castell Peralada, Girona, Spain

 Because we have been asked by the Festival Organisation, we refer here to the prestigious Festival Castell Peralada that will occur in the months of July and August in Peralada, Girona, Spain.
Concerning the lyric program there are performances of great interest, which include:

- Verdi's Il Trovatore on July 20, with a fantastic cast.

- A recital by tenor Ramon Vargas on August 2.

- Don Giovanni by Mozart on August 3 and 5, also with a very respectable cast.

- A world premiere opera (Java Suite) on August 14.

- And a luxury end, with a recital on August 22 by tenor Jonas Kaufmann (if he will not cancel).

Great reasons for a visit to Peralada (Girona, Spain).
www.festivalperalada.com

segunda-feira, 25 de junho de 2012

DER ROSENKAVALIER – English National Opera – 4 de Fevereiro 2012

(review in english below)


Depois de várias vezes ouvir o FanaticoUm a dizer-me para ver a Salome de Richard Strauss porque de certeza que ia gostar, acabei por, depois de uma lembrança radiofónica interessante de Ariadne auf Naxos do Teatro Nacional de São Carlos de há uns anos atrás, por entrar em Richard Strauss.

A reposição desta encenação no Coliseu de Londres, presente na mesma altura da trilogia Da Ponte na Royal Opera House, e em inglês (algo que não me incomoda particularmente, nem mesmo em Wagner), com elenco muito bom, veio mesmo em boa altura.

A produção de David McVicar é clássica e transporta-nos, com grande magia, para a Viena do século XVIII.

Excelente foi a interpretação de Sarah Connolly como Octavian. A sua presença física e o seu dote vocal é simplesmente perfeito para o papel.


Amanda Roocroft fez uma Feldmarschallin Marie Thérèse muito enquadrada com o seu dilema interior da velhice prematura e do medo certo da perda de amor do seu “Quinquin” por essa mesma idade avançada que, hoje em dia, seria surreal chamar velho a alguém na sua 3ª a 4ª década de vida. Do ponto de vista vocal denotou algumas dificuldades, principalmente em algumas passagens em que Strauss pede segurança e força nos agudos.

John Tomlinson foi simplesmente genial. Realmente há artistas singulares e este é um deles. Está com um físico e idade perfeitas para o papel de Barão Ochs e, pela primeira vez, vi Tomlinson a ser cómico em palco e com grande eficácia e credibilidade.


Os restantes intérpretes estiveram a um nível similar, destacando uma substituição de última hora com Gwyn Hughes Jones a fazer o papel de Cantor, numa das melhores passagens da ópera (além da cena da apresentação da Rosa e o trio final) – “Di rigori armato il seno”. Uma voz cristalina e de potência galesa incrível, oferecendo um dos pontos altos da noite.

Como sempre, é muito difícil tirar fotos no Coliseu... Há sempre alguém quase a bater-nos por estarmos a utilizar uma câmara fotográfica no final da récita. Deixo-vos as que consegui dos cantores em cima e algumas que encontrei na internet sobre a produção.









DER ROSENKAVALIER - English National Opera - February 4, 2012


After repeatedly hearing the FanaticoUm telling me to see Salome by Richard Strauss because for sure I’d like, I finally, after an interesting radio memory of Ariadne auf Naxos from the Teatro Nacional de São Carlos, a few years ago, by entering the Richard Strauss operatic world.

The revival of this staging at the Coliseum in London, at the same time the Da Ponte trilogy was playing at the Royal Opera House, and in English (something that does not particularly bother me, not even in Wagner), with a very good cast, came just at the right time.

The production by David McVicar is classic and transports us, with great magic, to the eighteenth-century Vienna.

Great was the interpretation of Sarah Connolly as Octavian. Her physical presence and vocal endowment is just perfect for the role.


Amanda Roocroft made a Feldmarschallin Marie Thérèse perfectly aware of her dilemma of premature old age and fear of lost of her “Quinquin” due to that age, something that, today, it would be surreal to call old to someone in their 3rd or 4th decade of life. From the vocal standpoint she  denoted some difficulties, especially in passages in which Strauss asks for safe and strong high notes.


John Tomlinson was just great. There are artists that are unique and this is one of them. His physical presence and his age is perfect for the role of the Baron Ochs, and for the first time I saw Tomlinson being humorous on stage and with great effectiveness and credibility.


The other performers were at a similar level, highlighting a last minute replacement with Gwyn Hughes Jones to play the part of the Singer, in one of the best passages of the opera (beyond the scene of the presentation of the Rose and the final trio) - "Di rigori armato il seno". A incredible crystalline and powerfull Welsh voice, offering one of the highlights of the night.


As always, it is very difficult to take photos at the Coliseum ... There is always someone about to hit us because we are using a camera at the end. I leave you with some of the photos I managed to take along with some photos of the production I found on the internet.







sexta-feira, 22 de junho de 2012

Rigoletto, Royal Opera House, Londres, Abril 2012



 Rigoletto, de G. Verdi, com libretto de Francesco Maria Piave, baseado na obra Le Roi s’Amuse de Victor Hugo, foi já comentada várias vezes neste blogue.

A Royal Opera apresentou novamente nesta temporada a produção de David McVicar, que gostei. A abordagem é ousada, de época, e revela explicitamente a corrupção na corte de Mantua. Logo no início, os seus frequentadores, ricamente vestidos, incluíndo o Duque, participam numa orgia sexual, com cenas de nudismo. O aspecto de Rigoletto é inspirado num insecto grotesco. Mais tarde, também imperará a crueldade no tratamento de Rigoletto e da sua filha. O palco é rotativo, simples e eficaz. Num lado aparece um interior de palácio ducal, em total contraste com a simplicidade da casa de Rigoletto ou a estalagem de Sparafucile que surgem no outro.


 A direcção musical foi do conceituadíssimo maestro britânico John Eliot Gardiner mas a orquestra não esteve perfeita. Embora raros, houve desencontros e notas falhadas. Já o Coro esteve irrepreensível.


 Dimitri Platagias, barítono grego (que foi o Rodrigo no Don Carlo do Ano passado no Teatro de São Carlos em Lisboa), foi um Rigoletto eficaz. A voz tem um belíssimo timbre e grande potência.Foi capaz de transmitir as diferentes emoções, embora tenha apresentado poucas alterações no tom de voz . Em cena foi também perfeito.


 O Duque de Mantua é a imagem de marca de Vittorio Grigolo, muito acarinhado por estas bandas. O cantor é um tenor italiano típico, com um timbre muito próprio, voz máscula e bem colocada. Contudo, no registo médio, por vezes, ouviu-se mal. É novo, tem uma boa figura e excelente mobilidade cénica, tornando a sua representação muito credível.


O soprano russo Ekaterina Siurina foi uma Glida convincente, de voz doce e bonita embora excessivamente sofisticada para a personagem. Em certos momentos faltou-lhe alguma potência mas, nas alturas cruciais, esteve bem. Também é jovem e com uma bela figura, o que muito a ajudou na caracterização da personagem.


 Matthew Rose, baixo britânico, foi um Sparafucile de voz profunda e forte, e também excelente presença cénica. Um dos melhores cantores masculinos, apesar de o papel ser curto.

A Maddalena do mezzo britânico Christine Rice foi forte e sedutora, tanto vocal como cenicamente. Foi a melhor cantora em palco.


 Gianfranco Montresor é um barítono italiano que canta frequentemente o Conde de Monterone. Hoje esteve vocalmente aquém das outras vezes que o ouvi neste papel. Foi o mais fraco de todos os intérpretes.

Merece uma palavra de apreço a presença do soprano português Susana Gaspar, como Condessa Ceprano. Teve uma interpretação curta e digna. Participa, desde Setembro, no Jette Parker Young Artists Programme da Royal Opera House. Parabéns Susana!






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Rigoletto, Royal Opera House, London, April 2012

Rigoletto by G. Verdi, with libretto by Francesco Maria Piave, is based on Le Roi s'Amuse by Victor Hugo. The opera was already mentioned several times in this blog.

The Royal Opera presented again this season the production by David McVicar, that I liked. The approach is audacious and explicitly reveals corruption in the court of Mantua. Early on, their members, richly dressed, including the Duke participate in a sex orgy with nude scenes.
The appearance of Rigoletto is inspired by a grotesque insect. Later, cruelty will dominate the management of Rigoletto and his daughter. The rotary stage is simple and effective. On one side we see the insideof the ducal palace, in stark contrast to the simplicity of Rigoletto's house or of  Sparafucile’s inn that arise in the other.

Musical direction was by the reputated British conductor John Eliot Gardiner but the orchestra was not perfect. Although rare, there have been some wrong notes. The choir was blameless.

Dimitri Platagias, Greek baritone (who was Rodrigo in last year’s Don Carlo at the Teatro de São Carlos in Lisbon), was an effective Rigoletto. The voice has a beautiful timbre and great power. He was able to convey different emotions, although he had little change in voice tonality. On stage he was also perfect.

The Duke of Mantua is the trademark of Vittorio Grigolo, much cherished in this opera houses. The singer is a typical Italian tenor, with a very particular timbre, with a strong male voice. However, in the mid register, sometimes he was difficult to be heard.. He is young, has a good figure and excellent stage mobility, making his performance very credible.

Russian soprano Ekaterina Siurina was a convincing Glida. She has a sweet and beautiful voice but, occasionally, too sophisticated for the character. At certain times she lacked some power, but in crucial moments she was good. Shi is also a young and beautiful figure, which greatly helped her on stage.

Matthew Rose, British bass, was a Sparafucile of deep and strong voice, and also an excellent stage presence. He was one of the best male singers, although the role is short.

Maddalena of British mezzo Christine Rice was strong and seductive, both vocal and artistically. She was the best singer on stage.

Gianfranco Montresor is an Italian baritone who sings often the role of Count Monterone. Today he was vocally below other times I heard him in this role. He was the weakest of all singers.

A word of appreciation is deserved to the presence of the Portuguese soprano Susana Gaspar, as Countess Ceprano. She had a short and dignified interpretation. She participates, since September, in the Jette Parker Young Artists Programme of the Royal Opera House. Congratulations Susana!
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sábado, 16 de junho de 2012

Opernhaus Zürich – Um exemplo de compreensão e respeito pelo público! Zürich Opera House - An example of understanding and respect for the public!



Como já referi aqui, tinha dois bilhetes comprados para a Gala do Jonas Kaufmann em Zurique há muitos meses. Tinha também comprado dois bilhetes para Il Re Pastore no dia seguinte. Poucos dias antes fui informado pela Opernhaus Zürich que a Gala seria cancelada e substituída por um recital lírico acompanhado ao piano.

Fiquei desolado e resolvi cancelar a viagem. Telefonei para a Opernhaus Zürich referindo a situação e pedindo o reembolso dos bilhetes. Foi-me de imediato concedido e, em relação à ópera do dia seguinte, que não teve qualquer problema, também me foi dada a hipótese do reembolso!

Há duas semanas verifiquei que na conta bancária tinha chegado apenas o reembolso dos bilhetes da Gala do Jonas Kaufmann. Mandei um e-mail a perguntar pelo Il Re Pastore e recebi quase de imediato resposta, pedindo-me desculpa pelo equívoco e informando que o reembolso dos bilhetes ocorreria na semana seguinte, o que aconteceu.

Nunca fui tão bem tratado por uma casa de ópera!
Obrigado Opernhaus Zürich!



Zürich Opera House - An example of understanding and respect for the public!

As I mentioned here, I had purchased two tickets for Jonas Kaufmann Gala in Zurich several months ago. I had also bought two tickets for Il Re Pastore next day. A few days before I was informed by the Zürich Opera House that the Gala would be canceled and replaced by an lyric piano performance.

I was very upset and decided to cancel the trip. I called Zürich Opera House referring the situation and asking for a refund of the tickets. It was immediately awarded and, concerning the opera of the second day, with no problems in the performance, I also was given the option of refunding the tickets!

Two weeks ago I received only the reimbursement of Jonas Kaufmann Gala tickets. I sent an email inquiring about Il Re Pastore tickets and I got an immediate response, apologizing me for the mistake and stating that the reimbursement of these tickets would occur next week, what did happen.

I've never been so well treated by an opera house!
Thank you Opernhaus Zürich!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

L’ELISIR D’AMORE, METropolitan Opera, Nova Iorque, Março de 2012


(text in english below)

L’Elisir d’Amore é uma ópera de G. Donizetti com libreto de Felice Romani. Confesso que está longe de ser uma das minhas óperas preferidas mas por ser frequentemente interpretada por grandes cantores tenho-a visto regularmente.

E o Met não fez a coisa por menos, juntou 4 dos melhores cantores da actualidade neste reportório: Flórez, Damrau, Kwiecien e Corbelli!! Os leitores habituais deste blogue sabem que Juan Diego Flórez e Diana Damrau integram a escassa lista de cantores pelos quais tenho uma admiração incondicional. Para além disso, o trio amoroso foi composto por 3 cantores jovens, com boa aparência e muita agilidade em palco, tornando muito credível a actuação. Imperdível!


A encenação de John Coplei é simples, muito colorida, mas muito pirosa. Há um patamar elevado a meio do palco, ladeado por duas escadarias, e tudo se passa por aí, mudando cenários simples em tela pintada maioritariamente de cor de rosa. Nada de mal a apontar à forma, mas o gosto de tudo é muito discutível e, nem se pode dizer que está exagerado para dar sentido cómico (se é assim, não consegue o objectivo). Também alguns comportamentos (pseudo)cómicos dos cantores, especialmente do Nemorino, para além de não terem qualquer graça, são autênticas macacadas (apesar de haver sempre quem ria).
Foi o último ano que esta produção subiu à cena no Met (e ainda bem) porque brevemente é precisamente uma nova produção desta ópera, com a Netrebko, que serve de reclame à temporada 2012-2013.


O maestro italiano Donato Renzetti foi responsável por uma má direcção musical. Os desencontros foram uma constante e várias vezes os cantores se “perderam”. Uma das piores direcções musicais a que assisti no Met. No final foi vaiado (aqui são Buuuus) por alguns, o que também não é nada habitual por estas bandas.

Juan Diego Flórez, tenor peruano, foi um Nemorino vocalmente fantástico. É o tipo de reportório que mais se adapta às características da sua voz, que é belíssima e, nas notas mais agudas, não tem rival. Não vou aqui repetir o que já escrevi várias vezes. Para mim, Flórez está no auge das suas capacidades vocais, mas há quem não pense como eu. Melhor é impossível.


Diana Damrau, soprano alemão, foi uma Adina deslumbrante. Para além do à vontade em palco, foi a melhor cantora da noite. A voz é de uma beleza ímpar, a potência é brutal, a coloratura fabulosa e nunca grita nem desafina. Outra intérprete que está no auge e canta cada vez melhor.


 Mariusz Kwiecien, barítono polaco foi um Belcore muito credível. Excelente actor, a voz é forte, harmoniosa, de belo timbre e sempre audível sobre a orquestra.


Alessandro Corbelli, um barítono italiano veterano, fez um Dr Dulcamara perfeito. Tem um enorme sentido teatral, foi o mais cómico em palco, cantou com segurança e eficácia. Coube-lhe a parte mais engraçada da encenação, as garrafas de vinho com o suposto elixir vão aumentando de tamanho à medida que vai “convencendo” os outros dos seus poderes. O papel parece escrito para a sua voz que é cheia, quente e mantém a qualidade em toda a sua extensão.


Ao contrário do que é hábito por estas paragens, em que os espectadores se comportam bem (exceptuando os aplausos prematuros antes da música terminar), estive numa situação única. Estava sentado na primeira fila do Dress Circle. À minha frente não tinha ninguém, claro.
À minha esquerda estava um homem novo e muito obeso que dormiu toda a récita, incluindo o intervalo, ressonando ocasionalmente e estrebuchando também com regularidade.
Mesmo atrás de mim estava um homem muito idoso, com uma respiração ruidosa e com características que indicam morte próxima (paz à sua alma pois hoje, dia em que publico este texto, já estará no céu).
À minha direita, uma senhora idosa que frequentemente tirava os óculos de uma pequena bolsa para os colocar, voltando a arrumá-los pouco tempo depois. Acontece que essa bolsa tinha 3 pequenos guizos na base! No intervalo, duas pessoas chamaram-na à atenção para o barulho dos guizos, mas a cena atingiu o ponto culminante com a velhota a abanar a bolsa, dizer que não se ouvia nada, e a perguntar aos outros (eu incluído) se ouvíam algo, todos respondendo que sim. Bom, pelo menos, na segunda parte não mexeu nos óculos e não ouvimos mais os ruídos dela. Mas a senhora não deve ter ouvido a ópera, pois a surdez não deveria ser específica para os guizos!











Apesar do maestro e de toda esta envolvência, foi um festival de belcanto, que teria sido perfeito em condições normais.

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L'Elisir d'Amore, Metropolitan Opera, New York, March 2012

L'Elisir d'Amore is an opera by G. Donizetti with libretto by Felice Romani
I confess that it is not one of my favorite operas but because it is often performed by great singers I have seen it regularly.

And the Met put it at the top level. Four of the best singers in this repertoire today joined to sing it: Flórez, Damrau, Kwiecien and Corbelli!
Regular readers of this blog know that Juan Diego Florez and Diana Damrau integrate the sparse list of singers for whom I have an unconditional admiration. In addition, the trio of lovers was composed by young singers with good looks and agility on stage, making the performance very credible. A Must See!

The staging of John Coplei is simple, very colorful, but very kitsch. There is a high platform in the middle of the stage, flanked by two staircases, and everything happens there, with changing simple painted rose scenarios. Nothing wrong with that, but I would not say it is exaggerated to make it comic. Also some behaviors (pseudo) comic of some singers, especially Nemorino, in addition to being no fun, they are authentic monkey performances (although there are always those who laughed).
It was the last year that this production has appeared at the Met (and thankfully). Next season a new production of this opera, with Netrebko, will be premiered and it is just this new production that is used in the announcement of the Met’s new 2012-2013 season.

Italian conductor Donato Renzetti was responsible for a bad musical direction. Coordination issues were a constant and often the singers were "lost." This was one of the worst musical directions that I attended at the Met. At the end the maestro was booed by some, which is usual here.

Juan Diego Flórez, Peruvian tenor, was a vocally fantastic Nemorino. It's the kind of repertoire that best fits the characteristics of his voice, which is beautiful and the top notes, has no rival. I will not repeat here what I wrote several times. For me, Flórez is at the peak of his vocal abilities, but some people do not think like me.Better is impossible!

Diana Damrau, German soprano, was a fabulous Adina. Apart from being perfectly comfortable on stage, she was the best singer of the night. The voice has a unique beauty, the power is brutal, the coloratura fabulous and she never shouts and is always in tune. Another performer at her best and that sings better and better.

Mariusz Kwiecien, Polish baritone was a very credible Belcore. Na excellent actor, with a strong harmonious, beautiful timbre and always audible over the orchestra.

Alessandro Corbelli, a veteran Italian baritone, was a perfect Dr Dulcamara. Also a great actor, he was the most comic on stage, sang with conviction and efficacy. He had the funniest part of the staging, the bottles of wine with the supposed elixir that increased in size as he would "convince" others of his powers. The role seems written for his voice which is full, warm and maintaining quality in all its range.

 Contrary to what is customary in the Met, where the audience behave well (except for the premature applause before the music ends), I faced a unique situation. I was sat in the front row of the Dress Circle. Ahead of me is there was nobody, of course.
To my left there was a very obese young man. He slept the whole performance, including in the intermission, snoring and twitching regularly.
Just behind me there was a very old man with a wheezing with characteristics that indicate imminent death (peace to his soul because today, the day I publish this text, he is already in heaven, I guess).
To my right, there was an elderly woman who often took the glasses from a small wallet to put them back there frequently. It turns out that this wallet had three small bells at the bottom! In the intermission, two people called her attention to the sound of her bells, but the episode reached its peak when the old lady shook her wallet, saying that she could not hear anything, and asked others (myself included) if we were hearing something. All answered yes. Well, at least in the second part she has not put her glasses on and we did not hear her bells. But the lady should not have heard the opera as well, as her deafness precluded her from hearing the bells!

Despite a bad conductor and all this environment, it was a feast of belcanto, which would have been perfect under normal conditions.


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